Uma ampla investigação do Ministério Público do Tocantins (MPTO) sobre a falta de transparência no uso de emendas parlamentares milionárias aprofunda a crise política que atinge o estado. O caso explode em meio ao afastamento do governador Wanderlei Barbosa, investigado por um suposto esquema de desvio de recursos da pandemia, e agora arrasta para o centro da polêmica a gestão do presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres (Republicanos).
A 9ª Promotoria de Justiça da Capital instaurou o Inquérito Civil nº 5389/2025 para apurar a aplicação dos, cerca de R$ 10 milhões anuais de verba de emenda individual que cada um dos 24 deputados estaduais possui. O MP-TO exige que a Assembleia Legislativa (Aleto) e o Governo do Estado prestem contas detalhadas sobre a destinação desses recursos — sob suspeita de mau uso e favorecimento político.
Investigação por falta de transparência nas emendas
Segundo o MPTO, o inquérito foi motivado por uma denúncia anônima e por dados da Transparência Internacional Brasil, que colocou o Tocantins em 21º lugar no Índice de Transparência e Governança Pública 2025, com nota 57,5. O relatório apontou a “falta de clareza sobre emendas parlamentares e obras públicas” como um dos principais problemas de gestão no estado.
A investigação busca identificar autoria das emendas, valores, programas beneficiados, localidades, tipo de repasse e execução. Parte desses recursos estaria sendo canalizada para contratos de eventos, shows e distribuição de cestas básicas, já sob investigação pela Operação Fames-19.
Operação Fames-19: buscas e apreensões dentro da Aleto
Em 3 de setembro de 2025, a Polícia Federal cumpriu 51 mandados de busca e apreensão em quatro estados e no Distrito Federal, durante a segunda fase da Operação Fames-19. No Tocantins, os alvos incluíram dez deputados estaduais — entre eles, membros da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa:
- Amélio Cayres (Republicanos) – Presidente da Casa
- Léo Barbosa (Republicanos) – 1º vice-presidente
- Cleiton Cardoso (Republicanos) – 2º vice-presidente
- Vilmar de Oliveira (Solidariedade) – 1º secretário
As investigações apuram crimes de frustração de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com um prejuízo estimado em mais de R$ 73 milhões aos cofres públicos.
O esquema das cestas básicas: fraudes e simulações
De acordo com a PF, políticos, servidores e empresários criaram um esquema para desviar recursos destinados ao combate à pandemia da Covid-19, por meio de contratos fraudulentos de fornecimento de cestas básicas e frangos congelados.
- Como funcionava: empresas de fachada ou com atividade econômica incompatível eram contratadas para entregar alimentos, recebiam valores milionários e entregavam apenas parte dos produtos.
- Simulação: fotos e vídeos com as mesmas cestas eram reutilizados para simular novas entregas.
- Prejuízo: foram pagos R$ 97 milhões, com R$ 73 milhões estimados em desvio.
Assembleia sob comando de Amélio Cayres
Agora, com a abertura de inquérito pelo Ministério Público e as ações da Polícia Federal avançando, a Assembleia Legislativa vive uma de suas maiores crises de credibilidade.
O Tocantins se vê, assim, diante de uma nova fase de instabilidade: enquanto o MP-TO cobra transparência e prestação de contas das emendas, a PF desmantela esquemas milionários que teriam transformado recursos públicos em moeda política.
Posicionamento da Assembleia Legislativa
Em nota, a assessoria da Aleto informou que prestou “colaboração total e irrestrita ao STJ e à Polícia Federal” durante os mandados de busca e apreensão. A Casa afirmou que não teve acesso aos autos da investigação, que tramitam em segredo de justiça, e por isso não se manifestará sobre os motivos legais que embasaram a ação.
Por: Geovane Oliveira, com informações da PF e MPE-TO.