2023-07-30T203237Z_672649435_GM1EA7V0CHA01_RTRMADP_3_HEALTH-EBOLA-LIBERIAO Conselho de Segurança da ONU nunca faz declarações referentes à saúde pública. No entanto, a entidade foi simplesmente obrigada a aprovar unanimemente uma resolução sobre a epidemia da febre do ebola na África Ocidental.

A resolução qualifica a epidemia que matou 2.600 pessoas como ameaça à paz e segurança internacional. Além disso, o vírus pode custar caro à economia africana.

Alguns países já começaram uma campanha de luta contra a febre. As personalidades oficiais russas declararam que a Rússia concederá ajuda alimentar aos países atingidos pela doença, em primeiro lugar à Guiné, Serra Leoa e Libéria.

A China, cuja presença na África cresceu consideravelmente, prometeu enviar para a região 59 peritos do Centro de Controle de Doenças. O presidente da França, François Hollande, anunciou os planos de abrir um HOSPITAL militar na Guiné. Os Estados Unidos, por seu lado, decidiram conceder ajuda militar, enviando 3.000 soldados. A ONU destaca que para liquidar a epidemia será necessário quase um bilhão de dólares para seis meses e tenciona constituir uma fundação especial para colher doações governamentais.

Mas será possível vencer o ebola? Não poderá o vírus tornar-se uma arma biológica? Reponde Philippe Hugon, politólogo e perito em assuntos africanos do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas:

– O vírus ebola é uma verdadeira tragédia humana. Até hoje, a doença causou 2.600 vítimas, enquanto a envergadura da epidemia continua a aumentar, ameaçando não apenas três países referidos, ou seja a Guiné, Libéria e Serra Leoa, mas também toda a África Ocidental. Não se deve excluir que a doença se espalhe para o resto do mundo. Este é o primeiro perigo.

O segundo problema é menos evidente, dizendo respeito aos três países acima mencionados e, em menor grau, a outros Estados da África Ocidental. Sua economia está de fato paralisada, pessoas não têm possibilidade de irem embora e existem enormes problemas do abastecimento. Trata-se em primeiro lugar de sociedades de minheiros que ficam firmemente pegados ao seu terreno. Além disso, a atividade produtiva está diminuindo, devendo esperar nos três países referidos, no mínimo, uma séria queda do PIB e recessão econômica. Esta é uma tragédia.

É nomeadamente por esta causa que os ESTADOS UNIDOS decidiram enviar para a região 3.000 soldados. A comunidade internacional reagiu, embora com demora, a esta situação e hoje cria-se uma sensação de que este drama não se limite à África e possa atingir também outros países.

– Será possível deter a epidemia?

– O principal problema desta epidemia consiste, em primeiro lugar, na necessidade de evitar o contágio, porque atualmente não existe ainda uma vacina contra a doença. Hoje em dia, a tarefa prioritária é instruir as pessoas. É necessário lutar contra a propagação da epidemia, porque, no caso contrário, ela só irá alargar-se.

A seguir surge o problema do tratamento. Conhecemos o vírus ebola a partir de 1976, mas as nossas realizações nesse sentido são bastante modestas, porque essa doença não aparece em todos os Estados e atinge, principalmente, os países mais pobres. Não surge na Europa e na América do Norte. Deste modo, devemos efetuar um grande trabalho científico e enviar para a região especialistas que possam instruir a população.

Não é segredo que os sistemas de saúde pública dos países que passaram por conflitos graves (Libéria e Serra Leoa) e atravessam uma crise econômica profunda (Guiné) não são capazes combater em separado a epidemia.

– Podemos dizer que ebola se torna um novo AIDS?

– Não. A atual propagação da epidemia explica-se pelo fato de a sociedade não ter reagido atempadamente à doença. Atualmente não existem medicamentos e meios de vacinação preliminar, mas, felizmente, ainda não nos encontramos na situação de HIV/AIDS que não somos capazes de curar.

Se não conseguirmos nada, enfrentaremos a mesma tragédia como a de HIV/AIDS, mas, como penso, a comunidade internacional entende que é necessário evitar isso a qualquer preço.

Hoje temos 2.600 casos mortais. Este é um número muito sério que só irá crescer, mas por enquanto nem pode ser comparado com os casos de HIV/AIDS na África, onde a doença é revelada em centenas de milhões de pessoas.

– Pode ser utilizada ebola como arma biológica?

– Evidentemente. As guerras podem ser nucleares, químicas e também biológicas. Sem dúvida, o vírus ebola pode tornar-se uma arma, se cair nas mãos de grupos terroristas. Além disso, poderão ficar infetados aqueles que estudam o vírus.