A agropecuária brasileira caminha para ser cada vez mais sustentável. É uma tendência que não tem volta. Neste seu cinquentenário, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) pesquisa e desenvolve tecnologias para tornar a pecuária mais eficiente, produzindo mais alimento na mesma área ou menor, com e em harmonia com o meio ambiente. 

Estudos com sistemas para mitigação de gases de efeito estufa (GEE), como integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF), trabalhos para redução do consumo de água, melhoramento genético, qualidade da carne e do leite, além de ferramentas de precisão e pecuária digital estão no portfólio da Embrapa Pecuária Sudeste, centro de pesquisa localizado na cidade de São Carlos (SP) e uma das unidades da Empresa focadas no desenvolvimento de soluções para a pecuária nacional. O uso da automação, de dispositivos eletrônicos de pesagem e alimentação, de sensores, da termografia e de estações meteorológicas automáticas possibilita a geração de dados com indicadores produtivos, comportamentais e fisiológicos, garantindo sanidade, produtividade e bem-estar dos animais.

Segundo o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt, as soluções tecnológicas têm apresentado bons resultados e contribuído para uma agropecuária com menor impacto ambiental e maior produtividade, com ganhos sociais e econômicos. Demonstrando, assim, que é possível garantir a conservação, aumentar a oferta de alimento e reduzir as emissões.  “Não basta só produzir. A produção precisa ser mais integrada, sustentável e inteligente. Mas isso precisa ser algo concreto, não utópico. É uma preocupação mais holística da agropecuária, que deve cuidar de aspectos que estão no entorno da produção, tudo com responsabilidade ambiental e social”, adverte Berndt. 

Novo estudo do centro de pesquisa divulgou dados que vão auxiliar os produtores rurais na descarbonização. O trabalho concluiu que são necessárias 52 árvores por vaca nos sistemas intensivos de produção e, em sistemas extensivos (baixo nível tecnológico), 33 eucaliptos por vaca para compensar as emissões de GEE. Pesquisas como esta podem ser usadas por pecuaristas para o desenvolvimento de uma pecuária mais sustentável, além de possibilitar a competitividade do país no mercado internacional.

Tecnologias no mercado e no forno

Entre os recentes lançamentos estão a tecnologia mais barata e sustentável para análise da qualidade de rações para peixes e os resultados de sequestro de carbono em sistemas integrados de produção com árvores.

A maciez da carne tem sido pesquisada desde 2006 pela Embrapa Pecuária Sudeste e parceiros. A ideia é disponibilizar marcadores moleculares e selecionar animais com alto valor genético para reprodução. Com o uso de marcadores o pecuarista tem a disposição uma forma mais rápida para se chegar a animais produtores de carne de qualidade e com menor custo.

No radar deste ano estão lançamentos de novas cultivares para pastagem, visando ao aumento da produtividade animal, e para gramados, com características específicas para atender diferentes mercados, como o setor aeroportuário, ferroviário e rodoviário, além de paisagismo. A pesquisa identificou espécies nativas de gramíneas para cobertura de solo com baixo custo de manutenção e adaptadas a diferentes regiões do Brasil. Está em fase final também uma formulação anticarrapaticida mais sustentável, de liberação controlada, melhor biodisponibilidade e eficácia.

O centro ainda investe em tecnologias para conservação e agregação de valor da carne bovina e de derivados. Pesquisadores estudam a vida de prateleira de produtos de origem animal tratados com revestimentos comestíveis. 

Outras iniciativas estão relacionadas ao manejo eficiente da água e dejetos, mitigação do estresse térmico de bovinos, coprodutos de couro e pele de peixes, melhoramento genético da raça Canchim (desenvolvida na Fazenda Canchim), dietas mais eficientes na pecuária, aplicativos e ferramentas digitais para auxiliar na tomada de decisões e gestão da propriedade, desenvolvimento de genótipos de ovinos adaptados às condições tropicais e subtropicais de criação, sanidade dos ovinos, estímulo à produção de leite orgânico, com curso para produtores e técnicos, e materiais de referência que auxiliam no controle de qualidade de laboratórios agropecuários de todo o Brasil.

Ampliação do conhecimento técnico

Além de pesquisas de ponta, a Embrapa Pecuária Sudeste tem programas voltados para a multiplicação do conhecimento gerado por meio da capacitação continuada de técnicos. 

O Balde Cheio é um desses programas desenvolvido em todo o país, que estimula a produção de leite, no formato tradicional ou orgânico, com sustentabilidade e eficiência. Para André Novo, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste e coordenador do Balde Cheio, aproximar a pesquisa, a extensão rural e a cadeia produtiva é uma estratégia eficaz para o crescimento da pecuária leiteira no país.

Além do programa para o setor de leite, o centro tem outras duas capacitações continuadas. O programa Bifequali TT, que leva tecnologias para a para a cadeia de gado de corte, por meio de capacitação de técnicos, monitoramento da atuação desses extensionistas e avaliação do impacto das soluções recomendadas pela Embrapa.

 A capacitação de técnicos em ILPF, que tem parceria com cooperativas e Governo do Estado, contribui para ampliar a adoção de sistemas integrados no país. 

“Muito do nosso conhecimento já foi gerado e continuamos a gerar novos. Se esse conhecimento não chegar até a ponta, nada vai acontecer. A Embrapa Pecuária Sudeste pode contribuir com nossa expertise em transferência de tecnologia por meio de capacitações continuadas. Precisamos dessa ponte entre a Ciência e o produtor rural”, destaca o chefe-geral. 

Mudanças para o desenvolvimento

O pesquisador Rui Machado conta que nesses 48 anos a Embrapa Pecuária Sudeste ampliou suas competências. No início, o foco era aumentar a produção e a produtividade pecuária para reduzir as exportações de alimentos. Com o passar dos anos, os trabalhos foram diversificados. Áreas como biotecnologia animal e vegetal, aspectos ambientais da pecuária, nutrição e saúde animal e pecuária de precisão expandiram seus espaços.

“Há alguns anos, o centro de pesquisa incorporou o conceito de sustentabilidade e fortaleceu o uso de modernas ferramentas da pecuária de precisão para gerar soluções tecnológicas para o uso racional e eficiente de insumos, o bem-estar animal e a competitividade”, destaca Machado. 

Até 2050, estima-se que o mundo terá uma população de 10 bilhões de pessoas para alimentar. O Brasil tem grande potencial para ser um dos principais fornecedores. Segundo Berndt, a ciência deve ser protagonista nesse cenário de mudanças climáticas para desenvolver tecnologias e trazer inovações para a agropecuária brasileira. Dessa forma, a Embrapa Pecuária Sudeste tem soluções tecnológicas e investe em pesquisas inovadoras para contribuir na promoção de uma pecuária com mais eficiência, sustentabilidade e responsabilidade, atendendo às demandas do mercado e dos consumidores globais.

Gisele Rosso (MTb/3091/PR)