Intimista e transformador. Essas foram as sensações que o espetáculo ‘O Crivo’, despertou no servidor público Clerisvan Souza, que compareceu a uma das sessões da peça apresentada neste fim de semana em Palmas.

Inspirado em três contos do livro Primeiras Estórias, do escritor Guimarães Rosa, um dos mais revolucionários e complexos da literatura brasileira do século XX, o espetáculo de dança ‘O Crivo’, do bailarino e coreógrafo João Paulo Gross, teve duas apresentações, uma na sexta (11) e outra no sábado (12), no Teatro SESC.

“A dança é sempre algo maravilhoso de se ver no teatro. A maneira como os sentimentos e emoções de um livro são transpostos para um espetáculo, através dos movimentos dos artistas, é algo sensacional. Me emociona muito ver a obra de Guimarães Rosa representada assim. Chegamos ao fim do espetáculo transformados pela beleza que é este diálogo de corpos atravessando juntos esta estrada”, pondera.

Na peça, dois homens criam relações que só se revelam na medida em que atravessam suas estórias, o SERTÃO, ao som fazendeiro, de galo cantando, vento batendo em meio a folhas das árvores. Mas o SER-TÃO aqui é outro! Ele não está em Minas, na Bahia ou em Goiás. O ser-tão, aqui, é o vazio em meio aos resquícios das notas pesadas e sutis dos pianos de Villa-Lobos, Francisco Mignone e Arthur Moreira Lima. É o sozinho que todos temos, o mundo de cada um.

Por meio deste atravessamento que diálogos e contatos são travados para, juntos, mergulharem na busca do que muda e o que permanece em cada um, tornando-os originários, fortes e delicados, na descontinuidade do tempo, onde meio se faz fim e o rio escorre em corpos físicos até a exaustão de ser quem se é: entre o nada e alguma coisa, a mais ínfima e completa condição do ser humano numa dramaturgia de mistério, convivência e comoção.

“O Crivo’ investiga o diálogo proposto por Rosa através da solidão onde podemos realmente viver um auto diálogo e perceber no recolhimento um mergulho na busca do que permanece em nós, que nos tornam diferentes e próprios. Como caminho, escolhemos as questões propostas em três contos pertencentes a ‘Primeiras Estórias’ a saber: ‘A Terceira Margem do Rio’, ‘Nada e a Nossa Condição’ e ‘O Espelho” para auto dialogar, desnudar, fluir junto as questões através da perplexidade de suas imagens instaurando um caminho inusitado – ‘aquilo que não havia acontecia’; é o homem em questão, buscando a solidão para um auto diálogo, nu, diante da condição de vida e morte, do inexplicável, preso à sua finitude, incapaz de tomar posse de sua humanidade para realizar-se”, explica João Gross, diretor e coreógrafo do espetáculo.

‘O Crivo’, que circula as cinco regiões do Brasil, foi contemplado por dois prêmios, o Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás e o prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2015. O espetáculo já passou por Belo Horizonte, Salvador, Natal, Campo Grande, Porto Alegre, interior de Goiás e República Tcheca.

Além das apresentações, no sábado à tarde, o bailarino João Paulo Gross ainda ministrou a oficina ‘Gesto: Palavra do corpo’ na Injoy Stúdio de Dança.

O trabalho teve como referência e caminho metodológico e o universo literário do livro “Primeiras Estórias” de Guimarães Rosa e ainda trabalhou a questão da origem, de onde e como nasce o movimento.