Os presidentes da República do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Federação Russa, Vladmir Putin, durante declaração à Imprensa.

O imbróglio começou pela exigência do governo russo de que o Ocidente garanta que a Ucrânia não vai aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança de 30 países liderada pelos Estados Unidos. A comunidade internacional está de olho na ida de Bolsonaro à Rússia. De acordo com Paulo Roberto Almeida, diplomata e ex-presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, não há ideias ou ideologias semelhantes entre os governantes, mas oportunismos, interesses e circunstâncias. “Os dois presidentes são isolados da comunidade internacional, mas querem mostrar o contrário. Para Bolsonaro, porém, o efeito é contrário. Ele ficará mais ainda, pois mostra desrespeito pelo direito internacional”, destacou. “A viagem pode passar a imagem de que o Brasil faz parte da agenda internacional, mas nem Putin nem Biden acham que o Brasil tem influência na agenda internacional ou europeia. Não há influência nem na América do Sul.” Em meio à tensão militar entre Rússia e Ucrânia, Bolsonaro negou que a crise entre Rússia e Ucrânia tenha interferido nas negociações entre Brasil e Rússia durante sua visita oficial.

O Brasil se tornou o primeiro país da América do Sul com o qual a Rússia formalizou relações diplomáticas, ainda em 1828. O relacionamento tem sido estreitado de maneira significativa por meio de visitas de altas autoridades e do diálogo no âmbito multilateral em foros internacionais como as Nações Unidas, o G-20 e as reuniões do Brics, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores. Em meio à crise entre Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia, e uma epidemia de Covid-19 que segue descontrolada na Rússia, tanto a viagem quanto a comitiva de Bolsonaro acabaram sendo cortadas. O presidente ficará apenas pouco mais de 24 horas na capital russa e sua equipe perdeu a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, da Justiça, Anderson Torres, e do secretário de Cultura, Mario Frias, e seus quatro assessores que acompanhariam a viagem. Apesar das pressões do governo norte-americano para que Bolsonaro desistisse da viagem, o presidente insistiu que o país tem negócios com a Rússia e a visita tem interesses comerciais importantes para o país. O Bolsonaro pode querer sinalizar isso [que não está isolado], ele vai fazer uma sinalização.

Dos R$ 5,7 bilhões que o Brasil importou da Rússia em 2021, 60% corresponderam a insumos fosfatados e nitrogenados. Nas conversas prévias, iniciadas em visita de França e Tereza Cristina no fim do ano, a ideia período a de estabelecer um contrato mais permanente para garantir o fluxo ao país. Haverá também eventos laterais, como o encontro de Braga Netto e França com seus homólogos. Aqui o tema da Ucrânia, acreditam diplomatas envolvidos na conversa, deverá ser explorado mais do que na conversa Putin-Bolsonaro. Receba no seu e-mail uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo; aberta para não assinantes.

Putin afirmou que o Brasil é o principal parceiro russo na América Latina. Bolsonaro disse que o Brasil está disposto a colaborar em várias áreas, como defesa, petróleo, gás e agricultura. Todos os conteúdos publicados no Nexo têm assinatura de seus autores. Para saber mais sobre eles e o processo de edição dos conteúdos do jornal, consulte as páginas Nossa equipe e Padrões editoriais. Para Joel, há na comitiva brasileira que vai à Rússia pessoas que estão indo a Moscou para discutir relações comerciais e outros temas pertinentes, mas a presença de Bolsonaro “não agrega rigorosamente em nada”.

Na semana passada, Putin esteve reunido com o presidente francês, Emmanuel Macron, que tentou acalmar a situação tensa entre Moscou e a Ucrânia.

Por Geovane Oliveira