Em um gesto que une academia e comunidade, uma casa de farinha no Povoado Floresta, foi transformada em banca de defesa de mestrado na última terça-feira, (02). No local onde o trabalho acontece, a mestranda Rosaldina Sinhá de Sousa, do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território (PPGCULT) da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), apresentou sua dissertação intitulada “Memórias de mulheres camponesas descascadeiras de mandioca na produção de farinha: povoado Floresta Wanderlândia (TO)“.
A escolha do local foi intencional e simbólica. Segundo Rosaldina, o principal objetivo foi oferecer uma devolutiva direta às mulheres que participaram do projeto, criando um espaço de compartilhamento onde elas pudessem compreender os resultados da pesquisa de forma próxima às suas vivências. “O principal motivo foi proporcionar às mulheres a sensação de serem vistas e ouvidas, especialmente em meio à invisibilidade social de seus trabalhos tradicionais”, explicou a pesquisadora. “Para as mulheres esse foi um dia muito importante, pois elas perceberam que as suas experiências e histórias estavam sendo registradas e que o fato da Universidade estar apresentando sobre seu trabalho, os desafios de ser mulher era de grande valor.”
Orientada pela professora Rejane Cleide Medeiros de Almeida, a pesquisa buscou compreender os modos de vida e a relação de gênero implícita no trabalho das descascadeiras de mandioca. As análises preliminares revelaram que, ao trazer suas histórias à tona, as mulheres se sentiram mais visíveis e reconhecidas, fortalecendo sua identidade e autoestima.
Impacto social e acadêmico
O estudo se destaca por sua relevância social e cultural. “A valorização da história local e das experiências das mulheres é fundamental para reconhecer o papel central que estas desempenham na produção agrícola e na preservação das tradições”, afirmou Rosaldina. Para a comunidade, a pesquisa fortalece a memória coletiva e o orgulho pelos saberes passados entre gerações. No campo acadêmico, o trabalho enriquece os estudos de gênero, antropologia, história oral e agricultura familiar, ampliando o entendimento sobre dinâmicas de comunidades rurais tradicionais.
O impacto esperado vai além dos muros da universidade, com potencial para influenciar políticas públicas que apoiem o desenvolvimento sustentável e equitativo da comunidade. Ao documentar as memórias, práticas e desafios enfrentados, a pesquisa pode fomentar o protagonismo feminino e incentivar a busca por melhores condições de trabalho.
Protagonismo e pertencimento
Para Rosaldina, a pesquisa também representou uma jornada pessoal. “Ao realizar minha dissertação, percebi que essas narrativas representam resistência e força, fortalecendo meu sentimento de pertencimento e reafirmando a importância de valorizar minhas raízes”, compartilhou.
A dissertação reforça o compromisso do PPGCULT da UFNT com a promoção de estudos que valorizem a diversidade e as lutas de grupos historicamente marginalizados. A mestranda destaca a necessidade de que “as próprias pessoas negras assumam o protagonismo na produção de conhecimento sobre suas vidas”.
O Povoado Floresta, localizado no município de Wanderlândia, às margens da BR-153 e a 5 km de Araguaína, tem uma população de 704 moradores, segundo o IBGE (2022). Ocupado desde a década de 1950, a comunidade mantém fortes laços econômicos, de saúde e educação com a cidade de Araguaína.