Neste domingo, 24, foi concluída na Fazenda Mundo Novo, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão, a tradicional farinhada de jatobá de Zé Mininim, realizada há duas décadas. Todo o processo de produção até a comercialização conta com o apoio do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins). Responsável pela gestão das Unidades de Conservação estaduais, o órgão fomenta o desenvolvimento socioeconômico das comunidades que habitam nestas localidades.
No cerrado tocantinense, o jatobá é amplamente valorizado por sua história e inúmeras propriedades nutricionais e fitoterápicas. Para comunidades tradicionais, como as que vivem na região do Jalapão, o jatobazeiro é fonte de vida, cultura e sustento.
Rico em ferro, cálcio, fibras e vitaminas, o jatobá é um aliado na geração de renda e na nutrição. Sua farinha é amplamente utilizada por comunidades do Jalapão em preparos de bolos, pães e biscoitos, mas também é consumida in natura. “Coloco no café e bebo todos os dias, não tenho nenhum problema de saúde, nem dor de cabeça sinto”, contou Salmeron Batista dos Santos, brigadista do Naturatins e irmão de Zé Mininim.
O jatobazeiro, de crescimento lento, pode atingir 40 metros de altura e um tronco de quase um metro de diâmetro, sua madeira é altamente valorizada. Seu fruto amadurece entre os meses de julho e setembro. E entre os meses de outubro e dezembro, as comunidades realizam as farinhadas de jatobá.
Sustentabilidade e renda no Jalapão
No Tocantins, a Rede Jalapão de Produtos Artesanais integra famílias extrativistas de Mateiros, São Félix do Tocantins e Novo Acordo, além de parceiros e instituições locais. Criada em 2006, a rede busca promover o uso sustentável dos recursos do Cerrado, contribui para sua conservação e incentiva alternativas de geração de renda às comunidades que vivem na APA do Jalapão e nos arredores do Parque Estadual do Jalapão (PEJ).
Rejane Ferreira Nunes, supervisora da APA do Jalapão, conta que o Naturatins, por meio das gestões das Unidades de Conservação, apoia essas comunidades em todas as etapas: da coleta ao beneficiamento e comercialização dos produtos. “No nosso calendário, este mês de novembro foi dedicado ao beneficiamento do jatobá na comunidade da Fazenda Mundo Novo, com destaque para o trabalho da família de José Batista dos Santos, conhecido como ‘seu’ Zé Mininim, que finalizou a produção da farinha de jatobá nesse domingo, 24”, informou a supervisora ao explicar que, com o apoio do Naturatins, as famílias da região passaram a reconhecer e valorizar os recursos do Cerrado, o que tem favorecido tanto o sustento das comunidades quanto a conservação do bioma.
Farinhada de Zé Mininim
Seu Zé Mininim, de 57 anos, é um exemplo de como o extrativismo tem transformado vidas no Jalapão.
Com 20 anos de atuação no mercado do Cerrado, ele ressalta a importância do apoio recebido. “Aprendemos a cuidar da natureza enquanto cuidamos do nosso sustento. Hoje, sabemos colher, processar, embalar e vender com respeito ao Cerrado, ajudamos a preservar o que é nosso. Só tenho gratidão por tudo isso”, declarou Zé Mininim.
A tradição da farinhada já é passada para a nova geração. Sobrinho de Zé Mininim, Gustavo Santos, de 9 anos, participou da farinhada pela segunda vez. Quem também tem aprendido sobre todo o processo de produção é Rosa Benedita Lambertucci da Silva, de 9 anos, filha da ativista cultural Andrea Lambertucci. “Eu já aprendi a mexer com a máquina de fazer farinha. Primeiro você tem que colocar o jatobá, e depois ligar. E aí vai misturando bem rápido. Então você tem que prestar atenção no que vai caindo na bacia. Separo as sementes que já pode plantar no outro dia. Eu gosto da farinha, a gente tem um pé de jatobá em casa, eu fico comendo todo o tempo. Eu quase nem como café da manhã porque eu fico comendo jatobá”, narrou Rosa Lambertucci.
APA do Jalapão: riqueza natural e cultural
A Área de Proteção Ambiental do Jalapão, criada em 31 de julho de 2000, abrange 461.730 hectares, ocupando partes dos municípios de Mateiros, Ponte Alta e Novo Acordo. Como Unidade de Conservação de uso sustentável, a APA busca equilibrar a proteção da biodiversidade com o desenvolvimento humano e econômico.
Lidiane Moreira/Governo do Tocantins