O cenário político brasileiro, infelizmente, tem se mostrado um palco onde práticas antiéticas têm se consolidado, especialmente em períodos eleitorais. Um dos exemplos mais preocupantes é a estratégia de alguns políticos que, ao se aproximarem das eleições, adotam uma tática que poderia ser resumida na frase: “Eu te dou o emprego e você me dá o voto!”. Esta expressão ilustra a prática de contratações em massa de funcionários públicos temporários, geralmente realizadas nos meses que antecedem as eleições, com o objetivo claro de garantir apoio eleitoral.

A TÁTICA DO VOTO TROCADO

No Brasil, essa estratégia não é nova, mas continua a ser uma poderosa ferramenta para políticos que buscam perpetuar-se no poder. Ao longo de seus mandatos, muitos gestores públicos adotam políticas fiscais agressivas, aumentando impostos como o IPTU e ISSQN, além de criar ou elevar taxas de serviços públicos como a iluminação pública. Com a arrecadação inchada, o dinheiro público passa a ser utilizado de forma oportunista, financiando contratações temporárias que, na prática, nada mais são do que uma moeda de troca: emprego por voto.

Essas contratações massivas são vistas como uma espécie de “cabo eleitoral” indireto. Os funcionários contratados, muitas vezes sem concurso público e sem critérios claros de seleção, sentem-se endividados com o governante que lhes proporcionou o emprego. A expectativa, implícita ou explícita, é que esse favor seja retribuído nas urnas.

O PREÇO ALTO DESSA “BARGANHA”

A prática pode até beneficiar alguns a curto prazo, mas os danos a longo prazo são profundos e duradouros. Em primeiro lugar, esse tipo de ação gera um descontrole nas contas públicas. As contratações, sem previsão orçamentária adequada, criam um rombo financeiro que, inevitavelmente, será pago pela população. Quando os cofres públicos estão drenados por essas despesas extras, os investimentos em áreas essenciais, como saúde, educação e segurança, ficam comprometidos.

Além do impacto financeiro, há também um impacto social significativo. A sensação de justiça e equidade é abalada quando o emprego público, que deveria ser acessível a todos de maneira transparente e meritocrática, passa a ser uma moeda de troca política. Isso gera desconfiança nas instituições públicas e desestimula a participação política baseada em ideias e projetos, fortalecendo uma cultura de apatia e descrença no processo democrático.

A FARRA DAS URNAS E O DESEQUILÍBRIO ELEITORAL

O uso da máquina pública para influenciar o resultado das eleições cria um desequilíbrio grave no processo eleitoral. Enquanto o político em exercício utiliza recursos públicos para conquistar votos, seus adversários enfrentam uma concorrência desleal. Este uso indevido de poder contribui para perpetuar as mesmas figuras no cenário político, dificultando a renovação e a oxigenação necessárias para uma democracia saudável.

RESPONSABILIDADE E NECESSIDADE DE FISCALIZAÇÃO

Diante desse quadro, é imperativo que as instituições responsáveis pela fiscalização e controle atuem com maior rigor. O Tribunal de Contas, o Ministério Público e a Justiça Eleitoral precisam intensificar a fiscalização durante o período pré-eleitoral e punir severamente aqueles que fazem uso indevido da máquina pública.

Além disso, é necessário criar mecanismos que inibam a prática de contratações temporárias sem justificativa técnica ou orçamentária. Medidas como a proibição de aumentos significativos na folha de pagamento em ano eleitoral e a obrigatoriedade de auditorias periódicas poderiam ser passos importantes para combater essa prática.

CONCLUSÃO

A “farra das urnas” é um sintoma de uma política que prioriza o poder em detrimento do bem comum. A prática de “eu te dou o emprego, você me dá o voto” é uma troca que, embora possa parecer vantajosa a curto prazo, cobra um preço alto da sociedade. O combate a essas práticas exige não apenas a atuação firme dos órgãos de controle, mas também a conscientização e mobilização dos cidadãos, que precisam entender o verdadeiro custo dessas barganhas eleitorais. Somente com uma fiscalização rigorosa e uma sociedade vigilante poderemos romper com este ciclo vicioso e construir uma democracia mais justa e transparente.

Por: Geovane Oliveira