A urbanização da Avenida Siqueira Campos, em Araguaína, tem sido celebrada como símbolo de avanço, modernidade e desenvolvimento. Mas, como jornalista e observador atento da nossa realidade regional, eu preciso levantar uma reflexão incômoda, porém necessária: que tipo de progresso estamos construindo e para quem ele realmente serve?
A obra transformou completamente uma área que, até pouco tempo atrás, era marcada por mata ciliar, sombra natural e um ecossistema que ajudava a regular a temperatura, proteger o solo e preservar a vida ao redor. Em nome do avanço, a vegetação foi ao chão, o concreto se espalhou e o verde deu lugar ao asfalto.
E é justamente aqui que entra a pergunta que não quer calar:
quem ganha com essa transformação? A população ou o mercado imobiliário?
O avanço do concreto e o recuo da natureza
Quando olho para a nova avenida, o que vejo é mais do que uma obra de infraestrutura. Vejo também o retrato de uma escolha política e econômica: a escolha de substituir árvores por concreto, sombra por calor, meio ambiente por especulação.
É impossível ignorar o fato de que, desde o anúncio da intervenção, a região passou a atrair interesses imobiliários intensos. Lotes se valorizam, novos projetos aparecem, investidores circulam. O que antes era área ambiental virou “oportunidade de negócio”.
Mas onde entram os moradores? Onde entra o futuro das nossas crianças?
Nossos netos vão herdar que cidade? Uma Araguaína com memória verde ou apenas lembranças de cimento?
A conta ambiental e social
As árvores não caem sozinhas. Junto com elas desabam:
- a qualidade do ar,
- a permeabilidade do solo,
- o controle natural das águas da chuva,
- a fauna que ali vivia,
- a história do lugar.
E tudo isso terá consequências que a cidade vai sentir — talvez não hoje, mas certamente amanhã.
O discurso do progresso não pode ser usado como cortina para esconder escolhas que atendem mais a interesses privados do que ao bem-estar coletivo. Desenvolvimento verdadeiro é aquele que equilibra crescimento com preservação, obra com responsabilidade, concreto com natureza.
O alerta que precisamos fazer agora
Escrever este texto não é ser contra Araguaína crescer. Pelo contrário: queremos e precisamos avançar. O que não podemos aceitar é um avanço que custa caro demais ao nosso meio ambiente e às futuras gerações.
Se continuarmos trocando natureza por concreto sem critério, teremos uma cidade mais quente, mais seca, mais cara e menos humana.
Ainda há tempo para repensar, corrigir, proteger o que resta e exigir que cada obra venha acompanhada de compensações ambientais reais, não apenas de discursos prontos.
Porque, no final das contas, a pergunta permanece:
quem está realmente ganhando com tudo isso?
E uma cidade que perde suas árvores, cedo ou tarde, perde também parte de sua alma.
— Geovane Oliveira
Jornalista — Portal O Melhor da Amazônia


